Para uma obra breve, uma resenha brevíssima. Livro de Joseph Conrad tem mar, pode saber. O escritor britânico que nasceu e cresceu em uma Polônia ocupada pela Rússia foi tripulante de diversas embarcações, chegando ao posto de capitão. Muitas de suas histórias são também navegantes, como O Passageiro Secreto.
Em uma viagem, um capitão resgata, no meio da noite, um náufrago do mar. Sem o conhecimento do resto da tripulação, ele permite que o passageiro fique. Esconde-o em sua própria cabine e divide com ele o diminuto espaço de seus aposentos.
Quando juntos, conversam em voz baixa para evitar atenções indesejadas. Quando sozinho, o passageiro é praticamente invisível. Ninguém o nota. “Enquanto ele pendia da escada, como um nadador em repouso, os relâmpagos marinhos percorriam seus braços e pernas a cada movimento; e o revelavam espectral, prateado, lembrando um peixe. Mudo como um peixe, também.”
Silencioso, mas sincero, o náufrago ganha a confiança do capitão e, aos poucos, do leitor também – apesar do motivo que o levou às águas do mar. Entre os dois personagens nasce uma cumplicidade intrincada, que leva a um reconhecimento mútuo. Em alguns momentos, dá pra confundir quem é quem, onde começa um e termina o outro, como uma sombra ou um espelho. “Estava tão identificado com meu duplo secreto que nem mencionei o acontecido naqueles sussurros escassos e cautelosos que trocávamos.”
Além de ser curto, o livro é desses que passam rápido. Quando você nota, já terminou. A trama flerta com o suspense e o texto é agradável, fluido, ritmado – lembra o mar em seus dias tranquilos.
O Passageiro Secreto, de Joseph Conrad. Tradução de Sergio Flaksman. Cosac Naify, menos de 100 páginas (elas não são numeradas e têm a beirada trabalhada com artes incríveis!).
*Texto publicado originalmente em 24 de junho de 2017.