Um convite à literatura.

Mais recentes

Resenha

A tetralogia napolitana, de Elena Ferrante

Gabriela Mayer
julho 16, 2024

Resenha

Stoner, de John Williams

Gabriela Mayer
julho 16, 2024

Resenha

O passageiro secreto, de Joseph Conrad

Gabriela Mayer
julho 16, 2024

Resenha

Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Aleksiévitch

Gabriela Mayer
julho 16, 2024

Resenha

O Sumiço, de Georges Perec

Gabriela Mayer
julho 16, 2024

Resenha

Hibisco roxo, de Chimamanda Adichie

Gabriela Mayer
julho 16, 2024

Nossos projetos

Clube do Livro

Encontros mensais virtuais, gratuitos e abertos a todas e todos que queiram participar de uma conversa que nasce de um livro.

Newsletter

Seleção mensal de resenhas, entrevistas, artigos, ensaios, vídeos, podcasts e outros conteúdos que falem de literatura.

poenaestante

• Uma mulher que é sua inimiga de classe. . •

• Uma mulher que é sua inimiga de classe.
.
• Em Uma Mulher, a francesa Annie Ernaux completa o olhar para os genitores que começou em O Lugar. Lá, ela narra o pai; aqui, a mãe.
.
• A mãe acabou de morrer e a narradora está ainda procurando palavras. Um exercício de linguagem que honra a trajetória da mulher que a criou, a quem nunca faltaram frases bem construídas e coisas bem ditas. Se com o pai manter as pontes da linguagem eram parte do desafio da ascensão intelectual, com a mãe a linguagem foi mais espaço de encontro, mesmo quando era farsa.
.
• Não foram só as palavras. As ambições, os desejos, a autoridade e as vontades, tudo na mãe era mais parecido com a escola. Daí seu ar superior. Mas, ainda que os livros e as leituras fossem um valor, a vida seguia fincada no interior rural, com um comércio para tocar e um passado de operária para elaborar. Travas à aspiração de migrar de classe, o que viu, com orgulho, a filha fazer.
.
• Ao mesmo tempo em que foi incentivo, essa mulher foi rigidez. Uma mãe de limites estritos, toque contido e opiniões firmes. Alternada entre o apoio para um futuro melhor e a violência que marcaram seu caráter e sua condição social.
.
• A narradora escreve com saudade, mas sem idealização. Oscila entre a compreensão de quem foi a mãe, e o lamento de quem a mãe não foi. As ambivalências da mulher narrada estão no cerne deste breve relato, cruzado com os momentos da França e do mundo, como é marca da obra de Ernaux.
.
• Ainda que explícitos, os livros de Annie Ernaux guardam segredos. Aqui não é diferente. Enquanto parece expor a crueza de uma mãe que deixou de ser um modelo e por vezes gerou repulsa, a narradora percorre a memória em busca daquilo que nunca poderá ser exposto, ainda que se proponha à franqueza radical. Ela procura e a gente tenta espiar as imagens afetivas que jamais terão sentido e por isso não poderão virar palavra.
.
• Uma mulher, de Annie Ernaux. Tradução de Marília Garcia. Fósforo, 61 páginas.
.
.
.
#umamulher #annieernaux #poenaestante #literatura #leitura #livros #leiamais #leiamulheres #literaturacontemporanea #livrosemaislivros #livrododia #libros #livrostagram #livrogram #bookdodia #books #bookworm

• Sempre gostei de aprender idiomas. Nunca foi i

• Sempre gostei de aprender idiomas. Nunca foi imperativo, foi vontade: entender como as palavras podem ser ordenadas, conhecer outra sonoridade para algo que conheço bem, descobrir vocábulos para coisas que descrevo com frases inteiras, encontrar sentido no jeito de um grupo se comunicar. Mas mesmo crescendo em uma casa bilíngue (meu pai é peruano), nunca encontrei prazer maior do que falar e escrever em português. É o prazer de não precisar simplificar pensamentos não simplificáveis por não ter as palavras exatas nem as ferramentas linguísticas para complexificar o que quero dizer.
.
• Pensei nisso ao ler A analfabeta, da húngara radicada na Suíça Ágota Kristóf. Ela não aprendeu outros idiomas por diletantismo. O alemão e depois o russo chegaram por imposição. E o francês, por necessidade. Vieram a guerra e as ocupações, sobrou o caminho da sobrevivência: cruzar clandestinamente a fronteira para a Áustria e buscar refúgio para ela, a bebê de meses e o marido.
.
• Ela, que sabia ler aos 4 anos, que escrevia a solidão de ter sido separada dos pais e irmãos, que colocava poesia no papel em diários; ela, companheira das letras desde que se entendeu sujeito, chegou ao novo país com duas bolsas: uma com mamadeiras, outra com dicionários.
.
• A Suíça lhe deu refúgio - uma cidade onde se falava francês e se precisava de mão de obra operária. As colegas trabalhadoras foram suas professoras. Um ensino econômico, só nas pausas para banheiro e cigarro. Eram palavras pontuais, sobre o corpo e o trabalho, o mais urgente.
.
• A menina devoradora de livros tinha virado uma mulher analfabeta. A quem as letras pareciam embaralhadas e as palavras não diziam nada. Os livros ficaram 5 anos sem sentido e os cadernos eram objetos distantes, que ficaram para trás com a família e o pertencimento a um povo.
.
• Como aprender a língua, no entanto, escrever não era escolha, era ofício incontornável. E as palavras vão voltando ao papel. Mas essa narradora não se curva às limitações do novo universo linguístico: com um dicionário sempre à mão, escreve e ensina histórias que jamais poderiam ser simplificadas.
.
• A analfabeta, de Ágora Kristóf. Tradução de Prisca Agustoni. Nós, 52 páginas.

• A casa é nosso lugar seguro. Menos quando nã

Seguir no Instagram

Siga-nos

Põe na Estante © 2023

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

FEITO COM ❤ PELA LINA ESTRATÉGIAS DIGITAIS