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Ligue os pontos – poemas de amor e big bang

Comediante, roteirista, ator, colunista, cronista e poeta. Gregorio Duvivier, um dos autores do popular Porta dos Fundos, mistura muitos de seus papéis em Ligue os Pontos. Fala de amor romântico, faz piada; filosofa sobre o dia a dia e sobre os quereres, concretiza rotinas; especula sobre as origens, ironiza; transforma a partida do carro em poesia, e pokemon, em elogio máximo.

No livro, o cotidiano está retratado em detalhes que costumam passar batido, na orelhada na conversa dos outros, no relance na cena do canto, ou nas atividades, nos objetos e nas grifes que estão todos os dias ao alcance. “o ipod o iphone o iogurte grego o mate de galão ou o miojo” que parecem não ter importância alguma, até alguém conseguir usá-los como parâmetros de modernidade para falar de amor. Sabe-se lá como se faz isso, mas Duvivier faz. Parece engraçado? E é também.

O amor e a vida viram figuras palpáveis, concretas e com marca. Como realmente são. As referências saem da mesa, da escrivaninha, da trilha sonora, da televisão. Dos nuggets ao icequê, dos beatles ao doug. Como cenário, o Rio de Janeiro. Com ruas, avenidas e números devidamente indicados para quem levar à risca a história de ligar os pontos e quiser tentar reconstruir o roteiro (mental) do escritor.

As descrições, cheias de metáforas e comparações, são sem dúvida um ponto alto de Gregorio Duvivier, muito bom em criar imagens literárias, transformando a avenida niemeyer no chile fluminense, e a chegada das aleluias que rodeiam as lâmpadas em ritual de medo e adoração.

A tarefa de ligar os pontos fica para você, leitor, que pode encontrar tudo ou nada nas páginas. Como o autor quando ligou “os pontos sardentos das suas costas na esperança de que a caneta esferográfica revelasse” tantas imagens esperadas, o leitor deste livro também pode se deparar com seres mitológicos, um mapa do tesouro ou uma constelação. Depende do caminho que a sua Bic percorrer.

Ligue os Pontos – poemas de amor e big bang, Gregorio Duvivier. Companhia das Letras, 85 páginas.

*Texto publicado originalmente em 14 de julho de 2014.

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Gabriela Mayer

Uma das fundadoras da Rádio Guarda-Chuva e uma das apresentadoras do podcast Café da Manhã, da Folha de S. Paulo. Também é colunista de literatura e gênero da revista AzMina e colabora como crítica para veículos como a própria Folha e a revista Quatro cinco um.

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